O que essa criança quer?
Todas as pessoas grandes foram um dia crianças, mas poucas se lembram disso.
O Pequeno Príncipe
Era uma vez a beleza de sonhar, conto de fadas, heróis, viagens galácticas, um mundo de fantasias e descobertas. Quem nunca sonhou e brincou de fantasia que atire a primeira pedra. Quando o ponteiro do relógio marca a hora de crescer, as obrigações da vida adulta tornam-se cada vez mais evidentes. Não há para onde fugir. É o processo natural. Mas, o sonhar é inerente ao ser humano, é o impulso para construir objetivos e metas pessoais. Almejar uma promoção de trabalho, planejar viagens, casar, ter filhos, ter uma família. Ter uma Família? Para muitos isso pode ser uma consequência natural, contudo, esse pode ser a maior sonho de uma criança acolhida.
Certo dia, em uma roda de conversa com as crianças, o assunto era sonho. Cada criança, do seu jeitinho, expos qual era seu maior sonho. E por incrível que pareça, em uma roda de crianças de 6 a 9 anos, os sonhos não eram brinquedos, viagem para a Disney, patins, vídeo game. Com cartazes, revistas, cola e tesoura as crianças recortaram figuras para montar a casa dos sonhos, que ficou repleta e colorida de imagens de famílias. Por certo que o trabalho social proporciona momentos como estes, que não há como controlar a emoção. E neste dia, o tal do cisco no olho foi a desculpa.
Pensar que, se essas crianças pudessem escolher apenas uma coisa na vida, um único pedido ao gênio mágico a escolha seria: ter uma família. Pois bem, infelizmente, não são todos os casos que é possível as crianças retornarem com a família de origem, ou família natural.
O inimaginável conto da bruxa malvada, dos vilões, que aqui, na vida real, se personificam nas drásticas violações de direitos. O habitat natural que seria de proteção e cuidado, muitas vezes, é o local que torna manifesto o rompimento do ciclo natural de cuidar e amar.
Se a vida adulta, as vezes se depara com a dificuldade em lidar com as emoções e sentimentos, imagine uma criança. Em um longa-metragem infantil, por nome de Divertida Mente, lançado em 2015, expressa exatamente a complexidade das emoções e sentimentos de uma criança.
É claro que de uma forma lúdica, mas que comunica perfeitamente o complexo mundo das sensações e vivencias. No filme, após uma mudança de cidade e diversas mudanças em sua vida, as emoções de Riley, uma menina de 11 anos, ficam confusas e agitadas. Em uma sala de comando, que no caso seria a mente, ficam os 5 personagens: tristeza, alegria, medo, raiva e nojo. Em resumo, a sala de comando entra em caos absoluto. Na tentativa de solucionar o caos, Alegria e Tristeza partem na tentativa de resgatar o perdido. E vão para áreas do subconsciente, depósito de memórias e o trem do pensamento. O filme mostra a importância de todas as emoções, e o saber lidar com todas elas. No final, em meio as frustrações e sentimentos da Riley, a alegria lembra que a única coisa que pode fazer Riley colocar tudo no lugar é o sentimento de estar em família.
“É só com o coração que conseguimos ver de verdade, o que é essencial é invisível aos olhos” Pequeno Príncipe. Se na fila dos pais de adoção, os olhos se fechassem para o superficial e se abrissem para o coração, a fila andaria. O maior presente que uma criança acolhida pode ter é uma família. Porém, muitas vezes não é tão fácil e simples. O perfil das crianças dos cadastros, que as famílias sonham, não corresponde o perfil das crianças que estão nos acolhimentos esperando por uma família. Há histórias lindas e surpreendentes.
Acredite! Todos os dias é uma emoção diferente. Histórias de adoção que são inspiradoras. E o desejo diário de profissionais que trabalham com isso é que os sonhos de nossas crianças sejam realizados: Uma família, não a família dos sonhos, porque é utópico, mas a família dos sonhos deles. Um lugar pra chamar de lar.
Por Carol Cabral – Assistente Social na ACRIDAS.